O que é transmasculino?

Identidade questiona violência reproduzida historicamente pelo gênero masculino

Transmasculinidade é um conceito que engloba pessoas transgêneras cujas identidades de gênero são masculinas, embora não necessariamente se identifiquem como homens. Assim, esse termo abarca tanto os homens trans, que se reconhecem como homens, quanto não-binários ou pessoas que possuem características masculinas, mas que optam por não adotar a designação “homem” em sua identidade de gênero.

Um motivo para uma parte dos transmasculinos para essa recusa é que há muitos padrões violentos ligados à masculinidade dominante, que incluem controle do corpo da mulher, reprimir emoções, expectativas de superioridade, não ser afetuoso com outros homens, entre outros.

“A masculinidade posta na sociedade não me representava e ainda não me representa. Meu maior desafio foi e tem sido construir minha própria masculinidade longe dos padrões violentos da cisgeneridade”, explica Enzo Gomes, homem trans e vice-coordenador do Instituto Brasileiro de Transmasculinidades (IBRAT).

A seguir, pedimos para Gomes responder algumas dúvidas comuns sobre o que é ser transmasculino.

O que é ser transmasculino?

Gomes: As transmasculinidades são uma identidade de gênero que contempla uma vasta gama de realidades. Caso de pessoas designadas como mulheres ao nascimento que questionaram a feminilidade que lhes foi imposta e se aproximaram da masculinidade na construção de suas identidades. A masculinidade pode ser vivida de muitas maneiras: cada pessoa tem sua própria trajetória.

Quais são as maiores dúvidas e confusões que as pessoas fazem em relação ao transmasculino, a partir da sua experiência?

Gomes: Acredito que as maiores dúvidas e confusões sejam em relação às expectativas de que todos os homens trans e transmasculinos tenham que performar a masculinidade dominante. Sendo que precisamos ser reconhecidos por nossa quebra desses padrões e por nossa singularidade.

É a aparência que define o que é ser homem?

Gomes: Gêneros são construções sociais e forma como performamos esse gênero (por meio de corte de cabelo e vestimentas, por exemplo) também. É importante entender que o “ser homem” não está em como nos vestimos ou aparentamos, isso pouco importa. A construção de uma identidade masculina, seja ela trans ou não, tem de ser baseada na liberdade do ser, no conforto de uma individualidade livre para experimentação.

Qual a orientação sexual de um transmasculino?

Gomes: Transmasculinos podem ser homossexuais, bissexuais, pansexuais, assexuais, heterosexuais etc. As sexualidades (orientação sexual) podem ser vivenciadas por qualquer indivíduo independente da identidade de gênero que se reconhece.

Como devo me dirigir a um transmasculino?

Gomes: Acredito que, como para todas as pessoas, é de bom tom perguntar qual o pronome de identificação, para garantir uma abordagem saudável e respeitosa.

Como foi o seu processo de se identificar como transmasculino?

Gomes: Foi difícil porque a masculinidade posta na sociedade não me representava e ainda não me representa. Meu maior desafio foi e tem sido construir minha própria masculinidade longe dos padrões violentos que a cisgeneridade constrói para si. Ter a oportunidade de experimentar cenários possíveis para viver minha dissidência e singularidade é muito importante. No começo da minha transição, eu sofri muito, pois tenho um sonho de gestar uma criança, e acreditava que isso não seria possível. Entretanto, após terapia e autoconhecimento, entendi que não precisava abrir mão de um sonho para viver minha masculinidade.

Foto: Acervo Ibrat/Divulgação