O racismo ambiental é quando algumas pessoas recebem mais problemas e menos benefícios relacionados ao meio ambiente do que outras. Isso acontece principalmente com comunidades negras, indígenas, latinas e de povos tradicionais, como ciganos, ribeirinhos, quilombolas, entre outros.
“O termo é usado para descrever injustiças relacionadas ao meio ambiente em um contexto que raça é relevante”, explica a cientista social e diretora de territórios do Instituto Perifa Sustentável e do movimento Gota do Oceano, Gabriela Alves.
Exemplos de racismo ambiental
Um exemplo de racismo ambiental é quando pessoas de grupos étnicos menos favorecidos vivem em áreas mais impactadas pelas mudanças climáticas, com enchentes e deslizamentos de terra, enquanto a população branca da mesma cidade se concentra em regiões seguras.
“Racismo ambiental e mudanças climáticas são situações que se cruzam”, lembra Alves.
Outro é a má distribuição de áreas verdes na cidade. “Não há ou há menos áreas verdes nas periferias, como parques”, exemplifica Alves.
Há ainda aquelas situações em que se escolhe direcionar lixo, substâncias tóxicas ou instalar fábricas altamente poluidoras em lugares onde vivem pessoas de grupos étnicos de maior vulnerabilidade socioeconômica.
Causas do racismo ambiental
O racismo ambiental é uma das muitas manifestações do racismo estrutural, ou seja, quando preconceito e a discriminação racial estão arraigados na organização da sociedade, privilegiando uma raça ou etnia em detrimento de outra.
Outros reflexos do racismo estrutural – como manter pessoas negras em postos de trabalho inferiores e ganhando salários menores – influenciam no racismo ambiental à medida que vai influenciar onde essas comunidades serão distribuídas na cidade.
Alves explica que a questão é histórica: apesar da abolição da escravatura, a população de pessoas negras recém-libertas não recebeu apoio. Sem trabalho, estudo formal e renda, foram concentradas em áreas periféricas e de maio risco ambiental, como morros
“Passaram a ocupar locais sem saneamento básico adequado, enquanto pessoas com renda e salário melhor podiam optar por lugares mais organizados. Hoje, ao cruzarmos os locais da cidade onde a maioria da população negra mora e a branca, identificamos o racismo ambiental”, descreve.
Para completar, grupos étnicos historicamente marginalizados – como pessoas negras e indígenas – têm menor acesso a recursos para lidar com os problemas causados por problemas ambientais, reforçando o racismo ambiental.
Impactos do racismo ambiental
O racismo ambiental impacta a saúde das comunidades afetadas. “Falta de saneamento básico em um bairro facilita a propagação de doenças. Se vivo em uma região sem áreas verdes, a qualidade do ar que eu respiro será pior”, apresenta Alves.
“Além disso, locais como favelas, habitados majoritariamente pela população preta, tem como característica moradias feitas com materiais que aquecem e sem conforto térmico. Essa população vai sofrer mais com as ondas de calor e com a sensação térmica que pode chegar a 50 e 60 graus”, acrescenta.
Como combater o racismo ambiental?
“Quando falamos de racismo ambiental, fica latente a ausência de política públicas mais sistêmicas, como de habitação, renda, reforma agrária, entre outros”, contextualiza Alves.
“Resolver o problema exige um leque de soluções que passa por políticas públicas ao comprometimento do estado e da sociedade civil. Como se trata de questões estruturais, ele também não será solucionado do dia para a noite” explica a cientista social.
Segundo a cientista social, as iniciativas também devem incluir proteger o direito à terra de povos tradicionais e originários contra ação de latifundiários, garimpeiros e grileiros. Expulsos de suas terras, eles migram para áreas vulneráveis.
Vale ainda destacar que empresas muitas vezes contribuem para o racismo ambiental ao escolherem locais de operação em comunidades marginalizadas. Assim, combater o racismo ambiental também exige maior responsabilidade corporativa, legislações rígidas e fiscalizar o cumprimento de leis ambientais.
“Outro ponto é a discussão do assunto na educação básica e investir em pesquisas para soluções baseadas na natureza nas cidades”, completa.
Imagem: Wepick