O “pacto da branquitude” ou “pacto narcísico da branquitude” é um conceito da filósofa e psicóloga Cida Bento e descreve como a branquitude mantém privilégios por meio de acordos implícitos. Estes garantem vantagens sociais, econômicas e políticas a outros brancos enquanto exclui pessoas negras e indígenas de espaços de poder.
Doutorando em Psicologia e pesquisador no campo dos Estudos Críticos da Branquitude, Willamys da Costa Melo explica que há um processo de racialização de pessoas negras e indígenas, que são colocadas em uma determinada posição na estrutura social. “Os estudos críticos da branquitude tentam entender de que forma o racismo também produz uma posição na estrutura social para pessoas brancas. Quais lugares ocupam em uma sociedade que possui como elemento estrutural e estruturante o racismo anti-negro”, afirma.
Conheça, a seguir, 6 perguntas que ajudam a entender o pacto da branquitude.
O que é branquitude?
Definir branquitude não é simples, como lembra Melo. “Enquanto o professor e historiador Lourenço Cardoso pensa a branquitude como uma identidade racial do sujeito branco, a psicóloga Cida Bento a caracteriza como uma ideologia produzida pelo racismo, vendo-a mais como uma reação do que uma identidade”, apresenta. “Já a professora Lia Vainer Schucman define a branquitude como uma posição de poder ocupada pelos sujeitos brancos”, acrescenta.
O que é o pacto da branquitude e qual sua origem teórica?
O termo é fruto da famosa tese da professora e psicóloga Cida Bento (2002). “É um mecanismo de manutenção que produz e reproduz os privilégios simbólicos e materiais dentro do próprio grupo racial branco. Dessa maneira, esse grupo fortalece o poder das pessoas brancas”, descreve Melo. “Para Cida Bento, o silêncio, o medo e o apoio solidário da branquitude consigo mesma a fortalece enquanto grupo racial privilegiado. Uma espécie de defesa da sua identidade racial e privilégios que levam à exclusão sistemática do negro nos espaços de decisão e poder”, afirma Melo.
De que forma o pacto da branquitude se manifesta no dia a dia?
Melo explica que todo branco é beneficiado, em maior ou menor proporção, em um país em que a estrutura é racista. Simbolicamente, esse benefício ocorre, por exemplo, quando a ideia de beleza recai sobre a raça branca. “O contrato racial, livro escrito por Charles Mills, vai dizer que todos os brancos são beneficiários de um contrato racial racista. Mas além de serem beneficiários, podem distribuir esses benefícios apenas dentro do próprio grupo”, analisa Melo.
Como o pacto da branquitude impacta a sociedade?
Melo explica que há uma diferença entre se beneficiar e promover o pacto da branquitude. “A criança loira e de olhos claros vai à escola e ouve continuamente: ‘que linda’. Ela não está sendo agente do pacto da branquitude ou desse contrato racial, mas está recebendo os benefícios da branquitude. Ou seja, ela é mais valorizada, tocada, visível etc.”, exemplifica o pesquisador. “Mas se essa criança cresce e vira presidente de marketing de uma empresa, e escolhe modelos brancos para as propagandas da sua instituição, agora, de fato, ela é signatária desse contrato. Isso mantém os privilégios do próprio grupo e reproduz a estrutura racista”, ilustra.
De que forma o conceito de pacto da branquitude se relaciona com o racismo estrutural?
O pacto da branquitude é uma parte essencial do racismo estrutural, pois atua como um mecanismo que sustenta esse sistema de opressão. “Ele garante que essa estrutura racista permaneça intacta, impedindo mudanças efetivas”, explica Melo.
O que pessoas brancas podem fazer para enfrentar essa estrutura?
Melo explica que podemos aplicar iniciativas contra o racismo nos ambientes em que ocupam. “Se você dirige uma empresa, implemente políticas de diversidade racial e garanta que essas pessoas cheguem aos cargos de poder e liderança”, recomenda. “Se você vai matricular seu filho em uma escola, observe sua composição. Se todo o corpo docente e técnico for branco, e apenas os funcionários de segurança, limpeza e cozinha forem negros, isso pode indicar uma escola que perpetua o racismo”, exemplifica.
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