A gordofobia é o preconceito, estigma e discriminação contra pessoas consideradas acima do peso ou obesas.
“A gordofobia pode se manifestar de várias formas: por meio de estereótipos negativos que associam a pessoa gorda com preguiça, desleixo e doença; por discriminação na escola, ambiente de trabalho, estabelecimentos de saúde e outros espaços; e também por assédio e intimidação”, resume a psicóloga Rebeca Melo.
Origem da gordofobia
Nem sempre o corpo magro foi classificado como belo. Padrões de beleza variam conforme o tempo histórico e de cultura para a cultura.
“Na Idade Média e períodos de escassez de comida, um corpo volumoso era sinônimo de riqueza, fartura e, logo, beleza”, lembra Rebeca.
A partir da segunda metade do século XX, porém, a magreza extrema se tornou o padrão difundido pela moda, mídia e entretenimento. Sem representatividade de corpos gordos na mídia, a magreza passou a ser vinculada à fama, sucesso e admiração social. Além disso, o sentimento inadequação gerado em todo mundo que estava fora do padrão passou a movimentar uma indústria da estética, que ainda hoje oferece produtos e serviços que vão de chás milagrosos a cirurgias plásticas.
“O padrão social hoje imposto não é apenas magro, mas musculoso e definido”, lembra Rebeca.
Direitos negados
Rebeca explica que qualquer pessoa pode sofrer com essa pressão estética, porém, no caso da gordofobia, a pressão vem acompanhada da perda de direitos.
“Por exemplo, os meios de transporte nem sempre possuem assentos que acolham uma diversidade de corpos, impedindo a pessoa gorda de ir e vir e provocando constrangimento. Há bullying nas escolas, que impedem o direito à educação, ou em ambientes de trabalho”, lista.
“Por sua vez, a associação do corpo gordo à doença e do magro à saúde, ao invés de aproximar gordos dos sistemas de saúde, os afastam. Claro que uma pessoa gorda pode estar doente, mas não é uma regra”, detalha Rebeca.
Quando detentora de poucos recursos financeiros, a pessoa gorda também enfrentará dificuldades em adquirir roupas.
“As lojas de departamento trazem poucas opções e, às vezes, a numeração é irreal. Uma blusa marcada como GG não veste uma pessoa tida como acima do peso”, denuncia.
Para completar, a gordofobia traz consequências para a saúde mental e o bem-estar, podendo levar à depressão, ansiedade e distúrbios alimentares.
“Nos atendimentos na clínica de psicologia, o que mais vemos são pacientes com a auto-estima fragilizada”, compartilha a profissional.
Gordofobia é crime?
A gordofobia ainda não é crime e não há uma legislação específica sobre o tema, apesar de haver atualmente projetos de lei na Câmara dos Deputados visando criminalizá-la. Porém, quem sofrer gordofobia pode mover ações no âmbito criminal (injúria) ou civil (danos morais).
Para isso, é necessário reunir provas contra o agressor e, em caso de injúria, lavrar um boletim de ocorrência e contratar um advogado para ingressar judicialmente com uma queixa-crime.
Houve um aumento de ações movidas por pessoas contra empresas em casos de gordofobia segundo dados do Tribunal Superior do Trabalho (TST). Em 2022, havia 1.414 processos em andamento, sendo 328 iniciados nos últimos dois anos.
Combatendo a gordofobia
Apesar desse panorama desafiador, Rebeca vislumbra mudanças sociais, com maior representatividade de pessoas gordas em filmes, na mídia, nas redes sociais, entre outros.
“Ver pessoas gordas com sucesso e presença em diferentes áreas da sociedade é fundamental para quebrar a gordofobia. Tira as pessoas gordas da marginalização ou de serem classificadas como anormais”, analisa.
A representatividade também combate a ideia de que uma pessoa precisa emagrecer para ser feliz.
“Ajuda a quebrar estereótipos negativos da pessoa gorda, por exemplo, que é preguiçosa e não quer praticar atividades físicas, de que ela é gorda ‘porque quer’. Quando há pessoas gordas que fazem exercícios e não emagrecem porque esse não é o biotipo delas”, lembra a psicóloga.
Para completar, a psicóloga acredita que o combate à gordofobia passa por uma educação que valorize a diversidade, incluindo a de corpos.
“Em tempos de redes sociais e filtros que mascaram aquilo que é considerado socialmente ‘um defeito’, é necessário educar as crianças sobre corpos reais e não mais naturalizar a violência contra quem não é magro”, finaliza.
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