O que é gaslighting?

Sinais ajudam a identificar essa violência psicológica que se baseia em distorção da realidade

Gaslighting é uma tática de manipulação emocional cujo objetivo é desestabilizar uma pessoa psicologicamente.

“Quem pratica está em posição de confiança e busca convencer a vítima de que a realidade é diferente do que ela percebe, distorcendo fatos sempre em benefício próprio. Assim, faz com que ela duvide das próprias percepções, sentimentos, convicções e memórias”, sintetiza a doutora em sociologia e líder do grupo Pandora – Estudos de Gênero e Sexualidades da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Loreley Garcia Gomes.

No gaslighting um dos parceiros cria situações que provocam no outro insegurança, medo e desestabilização emocional. Para isso, mentem intencionalmente, mesmo com provas matérias do contrário.

“A pessoa agredida começa a questionar suas habilidades mentais e a maneira como interpreta a realidade. Isso faz com que a ruptura do elo com o agressor demore a acontecer”, acrescenta Gomes.

Objetivo é controle

A expressão originou-se do filme “Gaslight” de 1944, no qual um marido busca persuadir sua esposa de que está enlouquecendo ao esconder seus pertences e ajustar a intensidade das luzes a gás na casa.

“O gaslighting geralmente ocorre em relacionamentos íntimos, mas a situação de abuso pode se dar em outros contextos, como na família, trabalho e amizades”, explica a socióloga.

Para Garcia, o objetivo de quem pratica gaslighting é controlar a vítima. “Levá-la a acreditar que sua estabilidade emocional ou memória são deficientes faz com que ela comece a desconfiar de si mesma e a depositar mais confiança no agressor”, sintetiza Garcia.

Além disso, o gaslighting também faz com que o abusador evite se responsabilizar por suas ações.

Dessa forma, a hipótese é que o praticante de gaslighting tenha baixa autoestima e escolha controlar o parceiro via mentiras para evitar perdê-lo, em vez de construir um relacionamento baseado em trocas equilibradas, empatia e respeito. O agressor também negligencia os efeitos prejudiciais que a violência psicológica acarreta na vítima, como a diminuição da autoestima, ansiedade e depressão.

Sinais da manipulação

Isso porque o comportamento manipulador é intercalado com momentos de afeto, fazendo que a vítima não acredite que a mesma pessoa que oferece amor também manipula. Alguns atos, porém, ajudando a perceber o gaslighting com mais facilidade.

Negação de eventos: O agressor nega acontecimentos que realmente ocorreram, fazendo a vítima duvidar de sua memória.

Minimização: O agressor diminui a importância dos sentimentos ou experiências da vítima, invalidando suas emoções.

Inversão de culpa: O agressor inverte a culpa, colocando a responsabilidade pelos problemas na vítima.

Descredibilização: O agressor descredibiliza constantemente a vítima, questionando sua sanidade, competência ou integridade.

Projeção: O agressor projeta seus próprios comportamentos inadequados na vítima, fazendo-a se sentir culpada.

Manipulação de fatos: o agressor manipula informações para criar uma versão distorcida da realidade.

Descontextualização: O agressor retira comentários ou ações do contexto para confundir a vítima sobre o verdadeiro significado.

Contradições constantes: O agressor contradiz suas próprias declarações anteriores, gerando confusão na mente da vítima.

Silenciamento: O agressor usa táticas para silenciar a vítima, como ignorar suas opiniões ou interromper constantemente.

Camuflagem com afeto: O agressor alterna entre comportamentos abusivos e expressões de carinho para confundir a vítima.

Não assume responsabilidade por erros ou comportamentos inadequados: geralmente, culpabilizando a vítima.

Gaslighting é violência psicológica

Como tal, pode ser enquadrada no artigo 5º da Lei Maria da Penha (Lei 11.340/2006), no caso de casais heterossexuais.

“O gaslighting é uma violência baseada em relações de poder e encontra terreno fértil em uma sociedade que é misógina e estigmatiza como ‘louca’ mulheres que contestam as normas impostas”, finaliza Gomes.

Imagem: Freepik

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