O que é estresse de minoria?

Psicólogos explicam condição que afeta parte específica da população

O estresse de minoria é uma forma de sofrimento psicológico vivenciada por pessoas que pertencem a grupos sociais marginalizados.

“Elas vivenciam estressores específicos adicionais aos do cotidiano, enfrentados pela população em geral”, resume Paula Moreira Rovai, psicóloga especialista em sexualidade e atendimento à população LGBTQIAPN+ pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (FMUSP).

Mas o que causa o estresse de minoria? “São camadas extras de vulnerabilidades, angústias e estresses, além de preconceitos e violências sofridas por essas populações, que podem funcionar como fontes de risco à saúde mental”, descreve a psicóloga.

“Ele é causado por estruturas de poder que retroalimentam desigualdades sociais, como racismo, misoginia, branquitude, homofobia, entre outros”, ressalta Walter Miez, doutor em Psicologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). “Assim, algumas condições de existência produzem adoecimento pelo lugar social que essas pessoas ocupam”, acrescenta.

Quem pode sofrer com estresse de minoria?

Pessoas LGBTQIAPN+, negras, indígenas e com deficiência são exemplos de grupos impactados pela teoria do estresse de minoria.

“No caso de pessoas LGBTQIAPN+, pode haver falta de aceitação e acolhimento dentro da própria casa, seguidos de exclusão social, falta de oportunidades de emprego, ausência de rede de apoio, círculos sociais restritos, além de violências psicológicas e físicas sofridas em casa, na rua ou no trabalho”, exemplifica a psicóloga.

“E quando afunilamos para a população trans, por exemplo, as camadas de estresse de minoria aumentam”, acrescenta.

A população negra também enfrenta o racismo estrutural, que intensifica o estresse de minoria.

Dados do relatório Pele Alvo: Mortes Que Revelam Um Padrão, da Rede de Observatórios da Segurança, de 2023, revelam que 4.025 pessoas foram mortas por policiais no Brasil em 2023. Em 3.169 desses casos, havia dados de raça e cor disponíveis: 87,8% (2.782) das vítimas eram pessoas negras.

Saúde mental comprometida

Estar dentro de um grupo que é constantemente alvo de violências pode ter como consequências o comprometimento da saúde mental. A lista inclui depressão, transtornos de ansiedade e obsessivo-compulsivo.

“Além de manifestações físicas, em que o corpo somatiza traumas e questões vividas, manifestando-se em alergias, coceiras e até em doenças crônicas mais graves”, aponta Rovai.

“Além disso, a teoria traz o apoio social, o acolhimento e ambientes seguros como fatores de proteção à saúde mental diante dos estressores e conflitos vivenciados por essas minorias”, complementa a psicóloga.

Diferenças entre o estresse de minoria e o geral

Enquanto o estresse comum pode ser desencadeado por desafios cotidianos ou eventos traumáticos, que afetam a todos, o estresse de minoria tem como fator principal a vulnerabilidade de determinados grupos na sociedade.

“Estresses psicológicos são mais amplos e abarcam qualquer tipo de estresse, como, por exemplo, o caso de uma pessoa vítima de um assalto à mão armada, que pode gerar um estresse psicológico não relacionado à pertença a uma minoria”, diferencia Rovai.

Combatendo o estresse de minoria

Segundo Rovai, o principal ponto para combater o estresse de minoria é a educação da população quanto à diversidade.

“É impossível criarmos um ambiente acolhedor e respeitoso se não falarmos abertamente sobre outras possibilidades de existência e vivência. Seja educação em escolas e ambientes corporativos, sejam políticas públicas que assegurem espaços e leis de proteção para essas vidas”, recomenda Rovai.

Além disso, ela destaca a falta de acesso a cuidados com a saúde mental para essa população. “A população negra também enfrenta inúmeras dificuldades ao ser atendida por profissionais sem letramento racial, que não possuem um olhar específico para as violências e preconceitos sofridos e internalizados”, exemplifica a psicóloga. “Espaços acolhedores e de escuta salvam”, complementa.

“Grupos e espaços de discussão dessas experiências, além do incentivo à prática psicoterapêutica, são fundamentais”, finaliza Miez.

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