A decolonialidade é um movimento que visa questionar e desfazer os efeitos negativos do colonialismo, quando europeus impuseram seu poder e cultura sobre outros povos e territórios.
“Ao colocar a Europa como centro e o homem, branco, cis, heterossexual e cristão como o padrão humano ideal, todos os que não se encaixam nesse modelo são considerados inferiores, desprovidos de direitos e cidadania”, exemplifica a doutoranda em História e pesquisadora do AYA – Laboratório de Estudos Pós-Coloniais e Decoloniais da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Tathiana Cassiano.
Ela explica que decolonialidade pode ser entendida como um movimento de resistência desses povos contra estruturas de opressão que persistiram após o fim do colonialismo, gerando racismo e impactando negativamente a identidade de povos que foram inferiorizados.
“Portanto, a abordagem decolonial é acima de tudo contra o racismo, o capitalismo, o patriarcado, entre outros”, destaca.
O que é a colonialidade?
O primeiro passo para entender o que é o decolonial é diferenciar o colonialismo da colonialidade.
O colonialismo é aquele período histórico marcado pela invasão e a ocupação de continentes até então desconhecidos pelos europeus, e domínio da população que ali habitava, visando acumulo de riquezas.
Tal período, porém, ajudou a consolidar uma estrutura de dominação pautada na classificação racial, com a Europa e a raça branca sendo tidos como o padrão.
“Essa classificação é base da organização política, econômica, social e intelectual das relações mundiais até hoje, mesmo com o fim do colonialismo”, explica pesquisadora.
“Ela criou, por exemplo, a noção de ‘Norte’ como desenvolvido e moderno, e o ‘Sul’, como subdesenvolvido. Pois essa organização foi batizada de colonialidade pelo intelectual peruano Aníbal Quijano”, compartilha Cassiano.
Como a colonialidade influenciou a sociedade?
Cassiano explica que ocorreu um processo de hierarquização que inferiorizou quem fugia do padrão eurocêntrico e do ideal de homem, branco, cis, heterossexual e cristão.
Nesse sentido, mulheres, pessoas negras e indígenas, com deficiência, trasgêneras e de religiões de matrizes africanas, por exemplo, foram marginalizadas e passaram a sofrer diferentes tipos de violências
“O mesmo critério de hierarquização se dá na relação do homem com a natureza, na qual animais, plantas e terra são vistos apenas como algo a ser explorado, em um modelo de desenvolvimento que é predatório”, completa.
Quais as consequências da colonialidade nos dias de hoje?
A pesquisadora cita o extermínio das populações indígenas e do espaço em que vivem; racismo; violência urbana que afeta especialmente jovens negros e pardos e a violência doméstica que leva à morte de mulheres.
“Também podemos ressaltar o assassinato de pessoas trans; o ataque aos direitos da população LGBTQIAPN+; o descaso com as condições de vida nas áreas periféricas; a perseguição às religiões de matriz africana; à islamofobia; entre outros exemplos que evidenciam essas hierarquias de poder”.
Como as pessoas podem promover a decolonialidade?
De acordo com a pesquisadora, sendo aliadas de lutas coletivas contra diferentes formas de opressão, uma vez que a estrutura social ainda é racista, sexista e classista. “É impossível enfrentar essa estrutura somente com ações individuais, sendo necessária articulação coletiva nas escolas, universidades, movimentos sociais, comunidades etc.”, destaca Cassiano.
Promover a diversidade cultural, combater preconceitos e apoiar populações que foram marginalizadas são atitudes decoloniais.
“Pensar em alternativas para os problemas que afetam a população mundial atualmente exige entender a origem deles, motivo pelo qual a decolonialidade é tão importante”, finaliza.
Imagens: Freepik
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