Na última semana, um corte do podcast Entre Amigues em que o rapper e artista Juppiter Pimentel era entrevistado viralizou após ser compartilhado por um deputado de extrema direita. No trecho em questão, Pimentel se definiu como possuindo uma identidade de gênero transmasculina e ‘boyceta’, o que levou o termo aos trend topics do X (antigo Twitter).
“Sou uma pessoa transmasculina, mas minha identidade de gênero mesmo é boyceta. Mas eu sou uma pessoa de gênero fluido também, então, entendo as nuances do gênero, para onde ele caminha e ser boyceta me dá liberdade para explorar minha feminilidade”, explicou Juppiter.
Mas o que seria boyceta? “Boyceta é uma expressão informal, uma gíria que se refere aos homens trans e outras transmasculinidades que estão contentes com o próprio corpo (e genitália)”, resume a pessoa produtora de conteúdo e consultora sobre diversidade, Rum Rabelo.
A seguir, Rabelo responde a 6 principais dúvidas sobre o que é ser boyceta.
1. O que é boyceta?
Boyceta é uma expressão informal, uma gíria que se refere aos homens trans e outras transmasculinidades que estão contentes com o próprio corpo, podendo se estender a todo transmasculino que se identifica com o termo e o acolhe para si. Mas é importante ressaltar que essa nomenclatura surgiu de forma pejorativa na comunidade periférica de São Paulo e ela está sendo ressignificada pela comunidade trans agora
2. Onde a expressão está localizada na sigla LGBTQIAP+?
O termo boyceta está associado à letra T da sigla. Está dentro do termo guarda-chuva transgênero que, por sua vez, representa toda a pessoa que não se identifica com o gênero atribuído no nascimento. Rompe, assim, com essa associação entre genitália e gênero (por exemplo, que precisa ter pênis para ter uma identidade de gênero masculina).
3. Ela dialoga com as transmasculinidades?
Para compreender a relação da expressão boyceta com as transmasculinidades, é preciso primeiro entender que existe um modelo dominante de masculinidade, enraizado culturalmente em nossa sociedade. O transmasculino é o indivíduo que se identifica com gênero masculino, mas não com os estereótipos opressores da definição de um homem. Isso levanta um debate político, social, cultural e filosófico acerca do que é ser um homem. Dentro desse cenário é onde surgiu a expressão boyceta, primeiro com o intuito inicial de ofender e humilhar os homens trans, diminuindo a sua masculinidade, associando seu gênero à sua genitália. A apropriação dessa expressão pela comunidade trans é um ato de resiliência, uma forma de dizer ‘eu tenho sim uma vagina e isso não me faz menos homem’.
4. Todo homem trans é boyceta?
Essa é uma questão muito delicada porque somente o próprio indivíduo tem um lugar de fala para dizer o que é ou o que deixa de ser. Contudo, com base nos conceitos, todo homem trans e transmasculino que se identificar com o termo e se sentir confortável com o mesmo pode pegá-lo para si.
5. Quando uma pessoa diz se identificar como boyceta, o que ela está tentando expressar?
É importante perguntar para a própria pessoa o que ela gostaria de comunicar com essa afirmação. Mas, caso não haja essa oportunidade, com base nos conceitos, a gente pode presumir que a pessoa é transmasculino ou homem trans, que está alinhado com as causas sociais e contente com o próprio corpo.
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