O que é a islamofobia?

Relatório aponta mulheres muçulmanas como as principais vítimas dessa violência no país

A islamofobia é o preconceito, a discriminação e a hostilidade contra muçulmanos ou o Islã, geralmente baseados em estereótipos negativos e desconhecimento sobre a religião e suas práticas.

O Islã é uma religião monoteísta fundada no século VII na Península Arábica, cujos seguidores, os muçulmanos, acreditam no Alcorão como a palavra divina.

“As causas da islamofobia podem ser simplificadas em uma ignorância completa do que seria o Islã, da dificuldade de aceitação de que o próximo pode ter crenças e um modo de vida diferente do que nos é estabelecido, aliado a falta de informação e de interesse em compreender e conhecer muçulmanos”, pontua a advogada Aya Abbas.

Aumento da islamofobia no Brasil

Segundo os Relatórios de Islamofobia no Brasil, do Grupo de Antropologia em Contextos Islâmicos (Gracias), as agressões verbais são uma das formas mais comuns de violência contra muçulmanos no país.

A primeira edição (2022), apontou que o fenômeno atingiu 92% das mulheres e 82% dos homens. Desses, 72% das mulheres e 54,5% dos homens relataram que a violência ocorreu nas ruas. Outros locais de discriminação incluem o trabalho (46,4% das mulheres e 39,9% dos homens) e escolas e universidades (42,7% dos homens e 31,8% das mulheres).

A  segunda edição (2023) reforçou essa perspectiva com 94,6% de mulheres percebendo a intolerância em algum nível (45,1% descrevendo muita intolerância e 49,5% apontando pouca).

Além disso, 69,2% de mulheres relataram aumento da islamofobia após o ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023, e 23,1% afirmaram ter havido um crescimento menor.

“Isso se enquadra no conceito de ‘evento gatilho’, que descreve situações extraordinárias que provocam um pico de islamofobia”, analisa Francirosy Campos Barbosa, antropóloga, docente da Universidade de São Paulo (USP-Ribeirão Preto) e coordenadora do Gracias.

Marcadores de identificação

Uma hipótese é que as mulheres são o principal alvo de discriminação por serem facilmente identificadas como muçulmanas pelo uso do hijab (lenço islâmico) e outras vestimentas. Para os homens, os principais marcadores de identificação são o sobrenome de origem árabe e a barba.

O acesso à saúde também é impactado pelo preconceito, como destacou o documento ao analisar levantamentos realizados nos Estados Unidos. 

“Mulheres muçulmanas que fazem uso do hijab relatam que sua vestimenta tende a influenciar a qualidade da assistência que recebem: sentir-se ignorada, excluída e desrespeitada pelo profissional de saúde são as queixas mais frequentes”, pontua o texto.

Ao final, raiva, desânimo, inferioridade e tristeza são os sentimentos relatados pelos muçulmanos que sofreram discriminações, como ressalta o Gracias.

Em relação aos estereótipos vinculados ao Islã, o relatório Gracias aponta ser comum que o homem muçulmano seja categorizado como terrorista e fundamentalista e, a mulher, como oprimida.

“No Brasil, o que chama atenção é que, quando uma mulher se converte ao Islam, sua família frequentemente não aceita essa nova escolha religiosa, o que pode resultar em violências e descontentamento dentro do núcleo familiar. Isso confirma o nível de desconhecimento da religião e das pessoas muçulmanas no país”, analisa Barbosa.

Causas da islamofobia

Para Barbosa, as bases islamofóbicas estão, primeiramente, na xenofobia. “Imagina-se que muçulmanos poderiam mudar a cultura do país onde escolhem viver, fazendo prevalecer hábitos da cultura islã levados por eles, promovendo um colonialismo reverso, em um processo indicado como islamização”, analisa a antropóloga.  

Em segundo lugar, Barbosa aponta intolerância religiosa, seguida de racismo. Outro ponto que merece destaque é o orientalismo (olhar do ocidente sobre o oriente), que categorizam pessoas do oriente como exóticos ou estranhos.

Para Barbosa, o enfrentamento da islamofobia só é possível educação, campanhas de conscientização e políticas públicas.

“É necessário promover programas educacionais em escolas e universidades que abordem o Islam de maneira justa e informada, desmistificando preconceitos e estereótipos. Oficinas de sensibilização e treinamento sobre diversidade religiosa para profissionais de diferentes setores também são importantes”, recomenda Barbosa.

Na segunda edição do relatório, 92,3% mulheres e 88%  entenderam, por exemplo, que a cobertura jornalística em torno do ataque de 7 de outubro colaborou para a intolerância de pessoas muçulmanas, por exemplo.

“Também são necessários fortalecer e aplicar leis contra crimes de ódio e discriminação religiosa, assim como políticas que promovam a inclusão e protejam os direitos das minorias religiosas”, completa a antropóloga.

Os relatórios recomendam, ainda, apoio psicológico às vítimas de islamofobia e fomentar o diálogo entre diferentes religiões para promover a compreensão mútua e o respeito.

Fonte: Freepik

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