Como funciona um censo de diversidade?

Ferramenta ajuda instituições a promovereem um ambiente de trabalho mais inclusivo

Um censo de diversidade, equidade e inclusão (DEI) é uma pesquisa que coleta informações demográficas em uma instituição para compreender como está a representatividade de grupos socialmente vulneráveis nela.

“Em geral, a pesquisa foca em gênero, raça e etnia, condição de deficiência, orientação afetivo-sexual, geracional e estrato socioeconômico, embora existam outras possibilidades, já que populações podem variar conforme à realidade organizacional de cada país”, explica o cofundador e CEO da Diversitera Marcus Kerekes.

Com os dados em mãos, o censo de diversidade ajuda a identificar disparidades, promovendo um ambiente inclusivo e melhorando a tomada de decisões estratégicas. Ele também pode aumentar a satisfação e a retenção de talentos diversos.

”Um censo de DEI pode ajudar a identificar a concentração de determinados grupos na base da hierarquia da organização, por exemplo. Ou então, demonstrar que determinados marcadores sociais se sentem menos pertencentes ou seguros para dar ideias ou questionar a situação atual da empresa”, acrescenta.

Confira abaixo a entrevista completa sobre o tema.

Igualize: O que é um censo de diversidade?

Marcus Kerekes: Um censo de diversidade, equidade e inclusão (DEI) é uma pesquisa que coleta informações demográficas em uma instituição para compreensão da representatividade de grupos em vulnerabilidade, além de avaliar aspectos inerentes a inclusão, como segurança psicológica, percepção de ambiente entre outras informações. Em geral, a pesquisa foca em gênero, raça e etnia, condição de deficiência, orientação afetivo-sexual, geracional e estrato socioeconômico, embora existam outras possibilidades, já que populações podem variar de acordo com a realidade organizacional de cada país.

Como ele é realizado?

Kerekes: Um censo de DEI é baseado em respostas autodeclaradas, anônimas ou com nomes fictícios, geralmente coletadas por meio de formulário eletrônico, cujas questões são orientadas às necessidades de cada organização para conhecer a sua gente. Após a fase de planejamento, em que se valida o questionário e se estabelece um plano de comunicação para garantir o engajamento dos colaboradores, vai-se a campo. O tempo da coleta pode variar conforme a taxa de respostas e o contexto de cada empresa. Uma vez que a pesquisa termina, um relatório é gerado e a análise de dados é realizada e entregue. Muitas vezes, parte dela é compartilhada com colaboradores ou em relatórios públicos, como relatórios de sustentabilidade e investidores. 

O que é feito com os resultados?

Kerekes: Busca-se compreender questões de equidade, como a representatividade de diferentes grupos em diferentes níveis hierárquicos e equidade salarial; e de inclusão, como o senso de pertencimento dos participantes. Todos os achados colaboram para a geração de insights e recomendações orientadas a definição de estratégias de enfrentamento das desigualdades naquela instituição.

Quais os cuidados na sua implementação?

Kerekes: Por serem dados sensíveis, deve-se atentar para procedimentos de conformidade à legislação de proteção de dados local. No caso do Brasil, a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que indica a coleta do consentimento dos entrevistados e os mecanismos disponíveis para que eles tenha acesso e total controle sobre seus dados.  Para que as pessoas se sintam confortáveis em participar, muitas organizações recorrem a consultorias especializadas que possam coletar as informações de forma segura, neutra e distanciada, além de sua capacidade analítica para interpretar as informações coletadas e gerar insights a partir delas.

Qual a importância de se realizar um censo de diversidade em uma instituição?

Kerekes: Ele permite que organizações de diferentes perfis compreendam a fundo suas realidades em termos de DEI, identifiquem prioridades e desenhem uma gestão inclusiva. Além disso, dados e indicadores ajudam no diálogo com as lideranças, que são agentes críticos para a criação de uma cultura inclusiva. Aos colaboradores, o censo de DEI pode despertar sentimento de pertencimento e propósito, além de atrair novos talentos, que já consideram hoje DEI como critério de escolha e permanência. Por fim, um censo pode, adiante, resultar em ambientes mais criativos e inovadores, e, assim, mais lucrativos para os negócios também.

Um censo de DEI pode ser realizado em quais tipos de instituições?

Kerekes: Um censo de DEI cabe a qualquer organização que esteja interessada em compreender sua realidade de diversidade, equidade e inclusão. Sejam elas públicas ou privadas; da indústria ou do terceiro setor; grandes ou pequenas; com muitos ou poucos funcionários; de todas as áreas de atuação; agindo individual ou coletivamente em prol de um setor etc.

Quais tipos de diversidade são normalmente incluídos em um censo de DEI?

Kerekes: No Brasil, em geral, as organizações buscam compreender cinco grandes marcadores sociais: gênero, étnico-racial, orientação afetivo-sexual, condição de deficiência e geracional. Estes são os grupos cuja diferença marca suas experiências – social, política, econômica e cultural, tornando-os os principais alvos das desigualdades estruturais. Vale notar que eles são também observados em suas intersecções. Há, contudo, outras informações ricas que podem ajudar em um diagnóstico mais profundo, como parentalidade solo, regionalidade, entre outros.

Como os dados coletados em um censo da diversidade podem ser utilizados para promover a inclusão e a equidade?

Kerekes: Um censo de DEI pode ajudar a identificar a concentração de determinados grupos na base da hierarquia da organização, por exemplo. Ou então, demonstrar que determinados marcadores sociais se sentem menos pertencentes ou seguros para dar ideias ou questionar a situação atual.  

Quais são os desafios mais comuns na implementação de um censo de DEI?

Kerekes: Conformidade com a LGPD, bom engajamento e porcentagem de participação dos funcionários e análise dos dados para a geração de bons insights.

Imagem: Freepik

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