Certos termos perpetuam estereótipos e preconceitos arraigados contra os povos indígenas. É o caso de “índio”, frequentemente utilizado para se referir a comunidades indígenas, carregando consigo uma carga histórica de colonialismo e marginalização.
O termo índio tem origem na colonização europeia das Américas e foi empregado equivocadamente pelos colonizadores, que acreditavam terem chegado às Índias.
Antropólogo da Articulação Brasileira de Indígenas Antropóloges (ABIA), Felipe Tuxá explica que o termo “índio” impôs uma identidade equivocada aos povos originários, desconsiderando suas identidades culturais e históricas únicas. No caso do Brasil, ignora que existam 266 povos no território brasileiro, de origens e idades diferentes, falantes de mais de 150 idiomas distintos, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“Quando português e espanhóis nomearam todos os povos como índios, foi um ato classificatório de poder. De repente, você encontra milhares de povos com línguas e costumes distintos e fala: ‘vocês são índios’. Isso foi feito para homogenizar as pessoas e desumanizar aqueles povos que ali estavam”, justifica.
“Saber isso faz parte do entendimento do porquê que esse termo é ofensivo. Ofende porque remete a um poder de nomeação que retira dos povos indígenas a possibilidade de nomear a si ou de ter a sua voz ouvida”, acrescenta.
Diversidade entre indígenas
O antropólogo ainda explica que o termo “índio” vem atrelado a uma imagem congelada do que é ser indígena, geralmente vinculada a estereótipos negativos. O indígena considerado “de verdade” pelo homem branco é geralmente a uma representação do romantismo brasileiro: é atrasado, exótico e vive apenas inserido em contexto de natureza. Quando, na realidade, pessoas indígenas podem estar em todos os espaços sociais, acessarem tecnologia sem, com isso, perderem a sua identidade e ancestralidade.
“As palavras não são neutras e o problema do termo índio é que ele nega a possibilidade de que indígenas sejam complexos, vivendo de formas diferentes, com culturas diferentes, com características físicas diferentes, entre outros”, justifica Tuxá.
“Uma vez que as pessoas têm acesso a uma imagem congelada no tempo dos povos indígenas, a categoria ‘índio’ cria uma prisão para o indígena que não corresponde a esse imaginário”, completa.
Por que usar “povos originários”?
Tuxá explica que o ideal é substituir o termo índio por “povos originários” ou “povos indígenas
Eles reconhecem a ancestralidade e a ligação dessas comunidades com suas terras de origem, enfatizando sua resistência frente às opressões históricas. Também respeitam a diversidade cultural e a identidade própria dos povos originários.
“Os termos denotam que somos moradores originário, nativos desse lugar”, analisa. Para o antropólogo, a substituição é importante, especialmente em um contexto em que os povos originários ainda precisam lutar para teres as suas terras demarcadas e protegidas contra o avanço da mineração, de madeireiras, pesca clandestina, entre outros.
Além do termo “índio”, vale também substituir a expressão “tribo” por “aldeia”. Enquanto a primeira considera os povos originários selvagens e ignora todas as suas contribuições culturais, a segunda evoca a organização comunitária e territorial das comunidades indígenas, assim como a sua relação harmoniosa com o meio ambiente.
“O melhor caminho é sempre ouvir os sujeitos indígenas sobre o que eles têm a dizer”, completa Tuxá.
Créditos: Unicef Colombia/Divulgação.