23 orientações para acolher uma pessoa que sofreu violência

Escuta ativa e sem julgamentos ajuda a fortalecer emocionalmente vítimas de diferentes tipos de violência

Quando alguém decide compartilhar uma experiência de violência, é importante saber como acolher e apoiar. Isso ajuda a romper o ciclo de silêncio, reduz o sofrimento e a dor emocional, contribui para a recuperação integral e também proporciona à vítima segurança para buscar justiça e reparação. Além disso, oferecer acolhimento à pessoa vítima de violência também exige manter uma escuta ativa.

O que é escuta ativa?

A escuta ativa é uma habilidade de comunicação que envolve prestar atenção de forma plena e verdadeira ao que outra pessoa está dizendo, demonstrando empatia e interesse real pelo que está sendo comunicado.

A escuta ativa não se limita apenas ao ato de ouvir as palavras, mas envolve a observação de linguagem corporal, tom de voz e emoções que a pessoa está transmitindo. Para ajudar nesta tarefa, listamos 23 orientações importantes para acolher quem sofreu diferentes tipos de violência, incluindo a violência doméstica.

Antes de iniciar o acolhimento

  • Assegure-se que você está preparado para fornecer esse tipo de escuta e ajuda. Se necessário, considere oferecer este suporte em parceria com outra pessoa;
  • Encontre um local sigiloso, seguro e também tranquilo para que a conversa possa acontecer; 
  • Respeite a segurança da vítima: a sua intervenção e possíveis orientações não podem resultar em risco a ela;

Durante o acolhimento

  • Preste atenção: isso significa desligar as distrações, como dispositivos eletrônicos ou pensamentos intrusivos, e concentrar-se totalmente na pessoa que está falando.
  • Atente-se às suas palavras e a sua linguagem corporal, tais como expressões faciais, contato visual e gestos.  Evite, por exemplo, manter os braços cruzados, o que pode demostrar falta de abertura e afastamento. Também tenha cuidado com a forma de aproximação, já que algumas pessoas podem não gostar de proximidade física.
  • Não fale muito, permitindo também o silêncio na conversa. Isso dará espaço para a vítima compartilhar o ocorrido;
  • Não fale sobre seus próprios problemas: o foco é o outro.
  • Evite interromper: deixe a pessoa concluir seu pensamento antes de responder ou fazer perguntas.
  • Valide os sentimentos compartilhados e como ela está se sentindo. Você pode dizer afirmações como: “Eu lamento pelo que houve”, “Posso imaginar o quão triste isso é para você”.
  • Não julgue ações ou sentimentos. Evite dizer coisas como: “você não deveria se sentir assim”, ou “você deveria se sentir sortuda por sobreviver”;
  • Evite frases de cobranças, como “por que você não me contou antes?” e “como você continua nessa relação?”. Além de não demonstrarem empatia, tais manifestações podem soar como cobranças e fazer com que a vítima se sinta envergonhada. Afinal, dependendo da situação de violência ou de quem é o agressor, é comum a pessoa demorar para buscar ajuda por não compreender o que está acontecendo ou ainda não ter se reconhecido como uma vítima.
  • Não utilize seus valores ou modo de vida como parâmetro. Respeite as escolhas, a individualidade, as diferenças culturais e também os direitos da pessoa, incluindo os relacionados ao exercício da sexualidade. Ela não é você.
  • Antes de oferecer conselhos ou opiniões sobre sua situação, é fundamental simplesmente ouvir o que ela tem a compartilhar.
  • Dê sinais de que você está ouvindo. Você pode balançar a cabeça de forma afirmativa ou dizer “humrum”;
  • Mantenha a calma, ainda que o relato lhe cause raiva ou indignação;
  • Faça perguntas claras. O objetivo é esclarecer e aprofundar o que a outra pessoa está dizendo, mostrando que você está realmente interessado em compreender. Perguntas abertas (que não podem ser respondidas com um simples “sim” ou “não”) são especialmente úteis nesse contexto.

Finalizando o acolhimento

  • Garanta a privacidade da pessoa e a confidencialidade da história compartilhada, não a repassando a terceiros;
  • Reconheça o esforço e a coragem da pessoa em compartilhar a sua experiência. Isso porque falar sobre uma situação de violência é desafiador e gera sentimentos como ansiedade, medo, tristeza e vergonha.
  • Não fale ou aja como se você fosse resolver os problemas da pessoa no lugar dela;
  • Expresse gratidão pela confiança depositada em você;
  • Em situações de violência doméstica, pergunte se ela está segura em casa. Caso contrário, incentive-a a procurar a delegacia de polícia e solicitar uma medida protetiva. Isso impedirá que o agressor se aproxime dela e de sua família.
  • Esteja disponível para apoiá-la na hora de realizar uma denúncia, seja acompanhando a vítima até a delegacia de polícia, hospital ou centro de assistência social. Especialmente em situações de violência física ou sexual, esse acompanhamento pode fortalecer a vítima a obter o apoio necessário.
  • Comunique à vítima que, mesmo que ela não queira receber ajuda agora, ela pode buscá-la novamente no futuro.

Com Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp)

Fotos: Freepik

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