O machismo é um preconceito expresso em opiniões e atitudes que se opõe à igualdade de direitos entre os gêneros masculino e feminino.
“Uma pessoa machista acredita que o homem é superior à mulher. A ideia de equidade de gênero é repudiada, pois o machismo determina que os homens devem estar acima das mulheres, possuindo mais direitos e tendo controle sobre os seus corpos e vidas”, resume a doutora em sociologia e coordenadora do Laboratório Interdisciplinar de Estudos e Pesquisas em Violência, Gênero e Sexualidade (ATENA-Unipampa) Jaqueline Carvalho Quadrado.
A sociedade em que vivemos é, em sua essência, machista. “Há manifestação machista em diversos campos: seja nos altos índices de violência, assédio, estupro, objetificação da mulher, seja na desigualdade de direitos entre homens e mulheres, como diferença salarial”, descreve a socióloga.
Outro ponto importante é que o machismo não está presente apenas em situações de violência extrema, como a violência sexual e o feminicídio, mas também no cotidiano e de forma sútil.
“Ele se manifesta, por exemplo, em piadas sobre mulheres e sua aparência, no assobio nas ruas – que pode ser classificado como assédio – na divisão das tarefas do lar, dentre outros”, lista.
Machismo é ensinado
Jaqueline explica que ninguém nasce machista, misógino ou racista: tais crenças são aprendidas em sociedade.
“O machismo é uma construção social e histórica, sendo reproduzido por meio da cultura e da educação recebida desde o nascimento. Ele é transmitido de geração para geração, apresentando-se de formas diferentes em cada cultura”, pontua
Basicamente, sociedade, cultura, família, escola, mídia, redes sociais, entre outros, transmitem continuamente mensagens sobre o que deveria ser um “homem real”.
“Então os homens, em seu processo de socialização, vão construindo sua masculinidade impregnada muitas vezes nessa ideologia machista. O problema com esse tipo de crença é que ela pode levar a violência de gênero”, lamenta
Confira 12 perguntas que ajudam a explicar o que é o machismo e como combatê-lo.
1) O machismo se baseia em estereótipos de gênero?
Sim, o machismo se baseia em crenças e expectativas sobre uma pessoa deve se comportar baseada no seu sexo biológico.
Por exemplo, os estereótipos de gênero podem sugerir que os homens devem ser fortes, provedores e dominantes, enquanto as mulheres devem ser dóceis, submissas e cuidadoras.
Isso acarreta em discriminações diversas, como menos mulheres contratadas para cargos de liderança, por exemplo.
2) Qual a diferença entre machismo e patriarcado?
O patriarcado é um sistema social e cultural em que os homens detêm a maioria do poder e autoridade em todas as esferas da vida, incluindo política, economia e família. Isso resulta na subordinação das mulheres e na perpetuação da desigualdade de gênero. Já o machismo é uma manifestação desse sistema patriarcal por meio de práticas e ações.
3) Qual sua diferença do machismo para a misoginia?
O machismo refere-se a atitudes, crenças ou comportamentos que promovem a superioridade dos homens sobre as mulheres, enquanto a misoginia é o ódio e aversão direcionado a elas.
4) Como o machismo se expressa em sociedade?
- Discursos que vão desde a ideia de que meninas devem mostrar mais autocontrole e educação do que os meninos;
- As escolas utilizam sistemas que dividem meninos e meninas de acordo com seu gênero, atribuindo atividades especificadas para cada um deles. “Por exemplo, uma fila para cada gênero, educação física separada”, exemplifica Jaqueline.
- Crenças como ‘homem não chora’;
- Crenças como ‘menina brinca de boneca e menino brinca de carrinho’;
- Crenças como ‘rosa é para meninas e azul para meninos’;
- Acreditar que as tarefas de casa são responsabilidade da mulher;
- Afirmar que esportes mais ofensivos, como o futebol e artes marciais, são exclusivos de meninos; enquanto balé, vôlei e dança são para meninas
- Brinquedo de cozinha: menina é dona de casa, o menino é chef
5) Quais são as principais atitudes machistas?
Jaqueline e a cartilha Assistente social no combate ao preconceito, do Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) listam algumas:
- A pessoa dificulta ou impede que mulheres expandam ou ampliem seus conhecimentos. Por exemplo, ir para a faculdade ou começar um curso. Isso faz com que elas fiquem dependentes financeiramente e tende a isolá-las, fazendo com que as suas relações fiquem restritas ao âmbito privado.
- Desqualificar o pensamento de mulheres: há homens que tem a atitude de explicar de forma simplista o que mulheres acabaram de dizer assumindo que elas têm menos conhecimento do assunto, quando não é caso. O termo recebeu o nome de “mansplaining”(em inglês, união de man -homem e explaining – explicar). É introduzido por falar como: Acho que foi isso que você quis dizer”, “deixa eu tentar explicar.
- Apropriação da ideia: quando a mulher dá sugestões, ideias que são ignoradas, mas quando um homem fala o mesmo conteúdo, recebe os créditos e todos acham uma excelente. Em inglês, o termo usado é bropriating (junção de bro abreviando brother, irmão, e appropriating, apropriação).
- Interrupção da fala: o que faz com que a mulher não consiga concluir uma frase em uma reunião, por exemplo
- Importunação sexual e assédio: são disfarçados de cantadas e acontecem quando a mulher está em espaços públicos, como em ônibus e ruas. Os assédios também acontecem nos espaços de trabalho, como o assédio moral.
- Objetificação e ‘hipersexualização’ da mulher: ela é reduzida a mero instrumento de realização dos desejos dos homens,
- Padronização estética: discrimina mulheres que estão fora de um determinado padrão estético, como mulheres não-brancas, gordas e que não são consideradas jovens.
- Muitos homens se consideram proprietários de sua namorada ou esposa. Há um desejo de controlar como a mulher pensa, veste ou se comporta;
- Separam-se as mulheres em grupos distintos: para casar e para ter sexo;
- A pessoa não quer que a parceira tenha amigos homens, ou que vá em festas e saia com as amigas;
- O homem procura não falar sobre seus sentimentos por medo de perder o controle, ou porque é considerado como um sinal de fraqueza;
- O homem não aceita que está errado;
- Não pede desculpas.
6) Como lidar com o machismo em casa?
Em casa, é preciso desconstruir a ideia de que homem ‘ajuda’ nas tarefas domésticas. “A realização de tarefas domésticas pelo homem, não deve ser um motivo de comemoração ou grandes elogios, é uma tarefa que ambos podem fazer”, ensina a socióloga.
7) Como lidar com o machismo no trabalho?
Lembrar que não existem profissões específicas para homens e para mulheres. A escolha da carreira se dá em gostos e afinidades, não em estereótipos e crenças”, explica a especialista.
Já para denunciar machismo no trabalho, documente incidentes: Registre datas, detalhes e testemunhas de comportamentos machistas. Converse com um superior e, se a empresa não agir, considere procurar um sindicato ou um advogado.
8) É possível deixar de ser machista?
Sim. Segundo a socióloga, é preciso ter disposição para mudar crenças, entender que todas as pessoas devem ter as mesmas oportunidades, respeitar a individualidade do outro e estar disponível para ler, informar-se e se auto-observar.
“Cabe ressaltar que tais mudanças exigem esforço diário, não é de um dia para outro, é uma construção de pequenos passos. É necessário que a pessoa machista reconheça que têm um problema e se esforce para mudar”, orienta.
9) Apenas homens podem ser machistas?
Não, algumas mulheres têm atitudes machistas sem perceber.
“Embora mulheres não se beneficiem das atitudes machistas, a misoginia que internalizamos (nosso auto-ódio) nos conduz a reproduzir pensamentos, piadas, comportamentos que refletem o poder dos homens sobre nós”, justifica a pesquisadora.
10) Pessoas LGBTQIA+ podem ser machistas?
A população LGBT+ não está isenta do machismo, da homofobia e misoginia. “Homens gays podem ser machistas e misóginos. Relacionamentos lésbicos que reproduzem a sociedade patriarcal estarão sujeitos ao machismo”, exemplifica.
11) O feminismo é o oposto do machismo?
Não. O machismo é a crença na superioridade dos homens sobre as mulheres, promovendo a desigualdade de gênero e a dominação masculina. O feminismo, por outro lado, busca a igualdade de gênero e os direitos das mulheres. Enquanto o machismo perpetua a discriminação, o feminismo luta contra ela. Portanto, eles são conceitos contrários no que diz respeito à igualdade de gênero.
12) Quais as consequências de conviver com uma pessoa machista?
“O relacionamento com uma pessoa machista pode desencadear distúrbios psicológicos como depressão e ansiedade associada a uma baixa autoestima, sentimentos de desamparo, desesperança e insegurança”, alerta a pesquisadora.
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