O que é xenofobia?

7 dúvidas respondidas sobre o preconceito ou discriminação contra pessoas de outras nacionalidades ou culturas

A xenofobia é o preconceito ou discriminação contra pessoas de outras nacionalidades ou culturas, muitas vezes motivada pelo medo ou pela hostilidade em relação ao que é percebido como “estranho” ou “diferente”. Esse comportamento pode se manifestar de diversas formas, como atitudes hostis, estereótipos negativos, exclusão social ou violência, afetando principalmente imigrantes e grupos minoritários. A xenofobia está ligada a uma visão distorcida de superioridade, onde os indivíduos rejeitam aqueles que pertencem a outras etnias ou países, o que pode gerar divisões sociais e prejudicar a convivência pacífica entre diferentes povos.

“Os ataques xenófobos tendem a buscar o isolamento e a expulsão do imigrante, assim como reprimir as diferenças culturais”, explica Gabriel Katsumi Saito, doutor em psicologia escolar e do desenvolvimento humano e pesquisador do Laboratório de Estudos sobre o Preconceito da Universidade de São Paulo (Laep/USP).

Conheça a seguir as respostas para sete dúvidas comuns sobre as causas e consequências da xenofobia.

1) O que é xenofobia?

A xenofobia pode ser caracterizada como o ódio ao estrangeiro, a quem está em migração – temporária ou permanente. “Ela é baseada em preconceitos que são alimentados por estereótipos (ideias simplificadas e generalizadas sobre um grupo de pessoas) construídos socialmente”, descreve Saito.

2) Como a xenofobia se manifesta no dia a dia?

“Pode ser por preconceito, como uma hostilidade, frieza ou indiferença ao outro; ou por uma ação discriminatória e segregadora. O ódio permite o ataque direto e repetido a alguém, já a indiferença possibilita a frieza e a ausência de empatia pelo sofrimento do outro”, explica Saito. Em pesquisa em escola pública paulista com alunos bolivianos e paraguaios, realizada pelo pesquisador junto ao professor Lineu Kohatsu, do Departamento de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), foram observados insultos baseados em estereótipos, ataques e perseguições sistemáticas semelhantes ao bullying.

“Lembro-me do caso de um amigo, imigrante acadêmico da Nigéria, que enfrentou dificuldades para alugar um imóvel e tirar carteira de motorista. Situações de indiferença, como ser ignorado por autoescolas ou imobiliárias, marcar visitas e ninguém ir, não são discriminações claras, se vistas individualmente, mas quando somadas, caracterizam uma exclusão mais ampla”, exemplifica Saito.

3) Quais são os principais fatores que levam à xenofobia?

Saito explica que são fatores sociais e estruturais, incluindo o capitalismo, que faz países e culturas serem mais ricos ou pobres, ou haver nações e classes sociais que exercem dominação econômica sobre outras. “Os indivíduos e as instituições podem ser suscetíveis a esta organização social. Além disso, a ideologia nacionalista, eugênica, racista etc., tem correlação com a xenofobia”, complementa o pesquisador. “A xenofobia, frequentemente ligada a outros preconceitos, como o racismo e o machismo, é caracterizada por um pensamento rígido e autoritário”, resume.

4) Como a xenofobia afeta a vida de quem a sofre?

“Os ataques xenófobos tendem a buscar o isolamento e a expulsão do imigrante, assim como reprimir as diferenças culturais”, pontua Saito. “Na pesquisa que fizemos sobre as reportagens de xenofobia na pandemia, encontramos relatos de pessoas hostilizadas em espaços públicos por desconhecidos”, acrescenta. Já nas pesquisas com estudantes de origem boliviana e paraguaia, ele relata ter encontrado isolamento, alunos se fechando em grupos com colegas da mesma origem, solicitando transferência de escola devido às agressões, piora no desempenho escolar, não participação nas aulas e até reprovação por faltas.

5) Há grupos mais vulneráveis à xenofobia?

Pesquisa na Argentina de 2015, país que possui realidade e movimentos imigratórios diferentes do Brasil, testou a xenofobia de alunos contra doze grupos identitários, sendo ciganos, judeus, asiáticos e de países de fronteira (chilenos, bolivianos e paraguaios) os mais rechaçados.

“O ódio a ciganos, judeus e asiáticos faz referência à intolerância contra os grupos que mantêm suas tradições e cultura. Já a xenofobia contra imigrantes de outros países que fazem fronteira faz lembrar do que o psicanalista Sigmund Freud apontou sobre o narcisismo de pequenas diferenças: grupos parecidos que entram em conflito na tentativa de se diferenciarem”, analisa Saito.

Ele relata que, na pesquisa com alunos de origem paraguaia e boliviana, as agressões xenofóbicas foram maiores contra o segundo grupo, que possui características físicas diferentes da população brasileira, geralmente vistas como diferença étnica e racial. “Portanto, a discriminação racial une-se à xenofobia”, afirma. “Quando imigrantes têm características físicas que se distinguem da população local, podem ser vistos como ‘não sendo assimiláveis pela cultura local’, ou seja, não importa o que façam ou quanto tempo estejam naquela nação, sempre serão vistos como estrangeiros.”

6) Discursos políticos e mídias sociais influenciam a xenofobia?

A xenofobia e outras ideologias baseadas em preconceitos são utilizadas por lideranças políticas e grupos com o intuito de manipular massas. “O importante na manipulação das massas é manter o maior número de pessoas em um apelo sentimental e inflamado contra inimigos em comum, que podem receber a culpa pelas injustiças sociais e que podem ser derrotados”, diz Saito. “Sobre argumentos, Hitler dizia que os judeus roubavam os empregos dos alemães, o que já foi dito sobre os venezuelanos no Brasil e os brasileiros na Irlanda. O que se diz do comportamento de brasileiras em Portugal, já foi dito sobre ciganas na Espanha. Na Alemanha nazista, usava-se o rádio para propagar xenofobia, assim como em Ruanda; hoje, são as mídias sociais”, relembra.

7) Como a xenofobia pode ser combatida?

No campo da educação, Saito recomenda que, nas primeiras fases de ensino, se atente a atitudes preconceituosas por parte dos alunos, como o ódio direcionado a figuras externas, que pode ser transmitido por familiares com tendências xenofóbicas. “No ensino fundamental e médio, a formação de grupos autoritários e a divisão hierárquica entre alunos podem favorecer a exclusão e a xenofobia. Ambientes masculinos, como torcidas de futebol, também são propensos à xenofobia devido à competitividade exacerbada e à hostilidade”, finaliza.

No âmbito jurídico, o pesquisador vê a Lei da Migração (Lei nº 13.445/2007) como um avanço em comparação ao Estatuto do Estrangeiro (Lei nº 6.815/1980) no combate à xenofobia. Para que sua aplicação seja eficaz, ele lembra que as autoridades devem conhecer ideologias preconceituosas, suas origens e argumentos falaciosos.

Créditos: Freepik.

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