Passabilidade é o termo usado para descrever a capacidade de uma pessoa trans de ser percebida pelos outros como cisgênero, sem ter sua transgeneridade identificada.
“É um termo que surge no movimento negro e foi apropriado pelo movimento trans. Significa passar despercebida ou ‘you can pass’ (você pode passar, em inglês). Fazia referência quando uma pessoa negra não era lida como tal, e as pessoas não acionavam necessariamente violências racistas”, explica a travesti doutora em educação e professora na Universidade de Maringá (UEM) Lua Lamberti de Abreu.
A passabilidade pode ter impactos significativos na vida das pessoas trans, reduzindo o risco de discriminação e violência.
“Muitas pessoas trans e cisgêneros também sofrem violência justamente por serem lidas socialmente como trans. Agora se você é tida como uma pessoa cisgênero, passará despercebida e isso não acontecerá. Quando você é identificada, mecanismos de transfobia são acionados”, resume Abreu.
Porém, a pressão estética para parecer cisgênero afeta a saúde física e mental de pessoas trans, como explica a educadora.
“É uma questão de pressão estética e tem a ver com a transfobia. Se o que é visto são signos diferentes do cisgênero, isso é lido como feio”.
Confira a entrevista completa a seguir.
O que é passabilidade?
Lua Lamberti de Abreu: Passabilidade é um termo que surge no movimento negro e foi apropriado pelo movimento trans. Significa passar despercebida ou ‘you can pass’ (você pode passar, em inglês). Fazia referência a uma pessoa negra que não era lida como tal, e as pessoas não acionavam necessariamente violências racistas. No caso da pessoa trans, a passabilidade significa ser lida visualmente como uma pessoa cisgênero e não ser identificada como trans. É passar sem ser notada.
Quais são as problemáticas de pressionar uma pessoa trans a parecer cisgênero?
Lua Lamberti de Abreu: É uma questão de pressão estética e tem a ver com a transfobia. Se o que é visto são signos diferentes do cisgênero, isso é lido como feio. Reforça a ideia que o padrão de beleza existente é cisgênero e que ser trans é feio.
Como essa pressão estética influencia a autoestima da pessoa trans?
Lua Lamberti de Abreu: Essa pressão estética influencia a autopercepção da pessoa transgênero, causando disforia (desconforto intenso com o corpo ou com a sua identidade).
De que maneira a passabilidade pode influenciar a vida cotidiana de uma pessoa trans?
Lua Lamberti de Abreu: Já no campo social, ser identificada como uma pessoa trans na rua pode te colocar em situação de vulnerabilidade e perigo. Você pode ser barrada em nível educacional e profissional quando a transfobia é acionada. Já se você não for identificada como pessoa trans, as pessoas não lhe tratarão diferente de quem é cisgênero. ‘Parecer trans’ pode afetar esferas sociais simples, como andar na rua e ser atendida no bar. A passabilidade agrega mais ou menos valor à sua existência quanto mais cisgênero você parecer. É como se as pessoas ‘passáveis’ fossem bons exemplos de pessoas transgêneros. A sociedade tende a dar parabéns e a elogiar a pessoa trans que parece cisgênero, como se fosse uma conquista ou prêmio.
Qual é a relação entre passabilidade e segurança para pessoas trans?
Lua Lamberti de Abreu: Muitas pessoas trans e cisgêneros também sofrem violência justamente por ser vistas socialmente como trans. Agora, se você é tida como uma pessoa cisgênera, passará despercebida e isso não acontecerá. Quando você é identificada, mecanismos de transfobia são acionados.
Toda a pessoa trans quer parecer cisgênero?
Lua Lamberti de Abreu: Não. Pode ser do desejo da pessoa trans não aderir a uma estética cis. Ela pode querer uma estética mais queer, mais andrógena, pode querer borras as linhas de gênero, do que é ser ‘homem’ e ‘mulher’
Qual o papel da mídia hoje em relação à passabilidade?
Lua Lamberti de Abreu: A mídia e a cultura popular ainda reproduzem esse padrão. A representatividade da pessoa trans que a gente vê na mídia reforça essa passabilidade.
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