O cinema é uma boa fonte de informação para entender a história do feminismo e as principais conquistas e reivindicações desse movimento.
“Produções cinematográfica podem ajudar a combater formas de sexismo e de machismo estrutural, que venham a menosprezar, marginalizar, subtrair, diminuir ou subjugar mulheres”, assinala Roberta Oliveira Veiga, coordenadora do Grupo Poéticas Femininas, Políticas Feministas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
“Tais obras podem ser usadas para fortalecer valores mais democráticos, inclusivos e igualitários do ponto de vista dos direitos femininos”, complementa.
Para a pesquisadora, o cinema auxilia na conscientização de que o feminismo é múltiplo. “Há uma interseccionalidade na causa das mulheres, que são atravessadas por diferentes formas de opressão, como por questões de raça, classe social, entre outras. A mulher negra, pobre e periférica é, historicamente, mais subjugada”, diferencia.
Além disso, o cinema conscientiza sobre pautas vinculadas à luta feminista, como: violência doméstica e de gênero; estupro; aborto; direitos das profissionais do sexo; das mulheres lésbicas; feminismo negro, indígena e trans; entre outras.
Machismo no cinema
Veiga explica que o cinema foi uma indústria historicamente masculina. “Ou seja, as mulheres, mesmo quando protagonistas, eram retratadas atendendo ao olhar e ao desejo masculinos, sendo representadas de forma sexualizada, docilizada ou à sombra do homem”, contextualiza. “Foram as teóricas feministas do cinema que começam a apontar essas problemáticas”.
Para a pesquisadora, uma metáfora do papel das mulheres na sétima arte foi o cinema western. “Enquanto os cowboys são retratados de forma aventureira, montados em cavalos e em paisagens abertas, as mulheres ficam reclusas aos interiores, em atividades domésticas”, assinala.
Filmes sobre feminismo
Segundo Veiga, todo o cinema pode ser feminista, a depender de como retratar a mulher. A pesquisadora divide as produções cinematográficas em dois tipos: o cinema engajado, como documentários e filmes de arte, que explicam didaticamente o feminismo e suas pautas; e filmes de entretenimento que colocam as mulheres como donas do seu desejo e vida. “As segundas também podem ser lidas na chave do feminismo”, aponta.
Nesta segunda categoria, ela indica produções como “Estrelas além do tempo” (2016), sobre a contribuição de três funcionárias negras da NASA na corrida espacial; e “Retrato de uma jovem em chamas” (2019); sobre o relacionamento entre uma pintora e uma jovem que ela precisa retratar na França do século 18.
A seguir, conheça 8 filmes sobre feminismo que ajudam a entender as principais pautas.
She’s beautiful when she’s angry (2014)
O título deste documentário pode ser traduzido como “Ela fica linda quando está com raiva”. A obra é dirigida por Mary Dore e resgata a história do movimento feminista dos Estados Unidos nas décadas de 1960 e 1970, trazendo entrevistas com as principais líderes e figuras de referência.
A nova mulher (1974)
O primeiro filme dirigido pela cineasta brasileira Helena Solberg nos Estado Unidos, ‘The Emerging Woman’ traça 170 anos de história do movimento feminista nos Estados Unidos e na Inglaterra, cobrindo o período de 1800 a 1974. O documentário utiliza diários, manifestos, reportagens, cartas e livros das mulheres ativistas, além de fotografias e imagens de arquivo de cinejornais. Parte inferior do formulário
A dupla jornada (1975)
A pioneira cineasta Helena Solberg filmou fábricas no México e Argentina, assim como minas na Bolívia e na Venezuela, para examinar as condições de trabalho das mulheres na América Latina.
Libertem Angela Davis (2014)
Este documentário dirigido por Shola Lynch retrata a vida de Angela Davis, uma professora de filosofia nascida no Alabama, reconhecida por seu engajamento na defesa dos direitos humanos. Na época, ela foi a mulher mais procurada dos Estados Unidos. Até hoje, Angela Davis permanece como um ícone na luta pelos direitos das mulheres e da população negra.
Jeanne Dielman, 23, quai du Commerce, 1080 Bruxelles (1976)
Conhecido somente por “Jeanne Dielman”, o filme da cineasta belga Chantal Akerman foi eleito o melhor da história, em 2022, pela revista de cinema Sight & Sound, do British Film Institute.
“A obra acontece na casa da protagonista, que passa seus dias em tarefas domésticas e, à tarde, enquanto seu filho está na escola, prostitui-se”, explica Veiga. “A obra é impressionante por ser feminismo na forma física: nós, espectadores, sentimo-nos confinados junto à protagonista, repetindo as tarefas”, destaca a pesquisadora.
Uma canta, a outra não (1977)
Neste musical, Agnès Varda apresenta duas amigas: a cantora idealista Pomme, que luta para viver da sua arte; e Suzanne, mãe de dois filhos quando jovem que se dedica a conscientizar outras mulheres sobre a importância do planejamento familiar.
Kbela – O Filme (2015)
Este premiado curta-metragem sensorial da diretora Yasmin Thayná aborda o racismo presente na imposição do alisamento do cabelo de mulheres negras, incluindo pelo cinema.
“É um olhar sensível sobre como o racismo incide corpos de mulheres negras e como o cabelo afro pode ser uma marca de autoafirmação”, analisa Veiga.
Por que Não? (1986)
Raro filme da cineasta Ângela Freitas, baseia-se no depoimento de mulheres que já passaram pelo aborto. Dessa forma, discute a legalização e a descriminalização do aborto como medidas para assegurar dignidade e preservar a vida das mulheres.