A “branquitude” refere-se à condição de ser branco em uma sociedade, ou seja, à identidade e experiência de quem pertence ao grupo racial branco. Brancos, geralmente, não se enxergam como um grupo racializado e tendem a se entender como o padrão e norma da sociedade. Assim, constroem e reforçam uma visão de mundo centrada neles e que discrimina outras raças e etnias.
Alguns exemplos práticos dos privilégios da branquitude incluem ser predominantemente retratado na mídia; ser favorecido nas normas e padrões de beleza; ter maior acesso a oportunidades educacionais, de trabalho e de remuneração; ensinar nas escolas uma história que destaca realizações e perspectivas brancas, enquanto minimiza ou omite contribuições e experiências de outras comunidades; e não sofrer discriminação racial em situações cotidianas.
Para complementar, a branquitude também manifesta resistência em discutir ou reconhecer o seu papel na manutenção do racismo.
Para aprofundar o assunto, pedimos à consultora em comunicação e diversidade racial Luana Daltro para responder a 6 perguntas sobre o que é branquitude e seus impactos sociais.
Igualize: O que significa o termo “branquitude”?
Luana Daltro: Para aprofundar o seu significado, utilizo a definição do livro “Branquitude: estudos sobre a identidade branca no Brasil”, de Tânia Müller e Lourenço Cardoso, que a explica como uma identidade que ocupa “o lugar mais elevado da hierarquia racial, um poder de classificar os outros como não brancos, que, dessa forma, significa ser menos do que ele”.
Isto quer dizer que a identidade branca exerce poder na estruturação da sociedade: o poder de separar em caixas e padrões os grupos que estão nessa sociedade.
Quais são os elementos que compõem a identidade da branquitude?
Luana Daltro: Ser branco é (tido como) um lugar neutro, padrão e homogêneo. Pessoas brancas podem ter dificuldade em se classificar, porém, sabem dizer o que não é branco. Partem do ponto de sempre analisarem o outro, mas nunca fazem a devida análise sobre o que é ser branco. Esse ato de não pensar sobre “ser branco” e suas implicações na sociedade é um privilégio e traz um lugar de segurança, conforto e de ser um espaço social intocável.
Quais os impactos sociais da branquitude?
Luana Daltro: A branquitude é responsável pelas configurações simbólicas e concretas da sociedade, impactando nas relações e na organização dela. Ações simbólicas incluem cultura, língua, valores e afins, que são condicionados a partir do olhar deste grupo. Entre as ações concretas, vemos governos, instituições, empresas, entre outros, construídos sob a perspectiva dele. Como brancos detêm o poder na sociedade, estabelecem as suas configurações sociais a partir da intersecção entre classe e raça. Ou seja, em sua maioria, pessoas brancas estão no topo da pirâmide social, detendo o poder de decisão e dinheiro, enquanto pessoas negras e indígenas compõem a base da pirâmide, detendo menor poder aquisitivo. Esses que estão em cima da pirâmide sabem de seus privilégios e não querem perdê-los. Tudo isso gera diferentes desigualdades sociais.
Quais os impactos da branquitude na saúde mental de pessoas pretas?
Luana Daltro: Desde a formação deste país, pessoas brancas detém o poder enquanto pessoas negras e indígenas não o tem. Isso resultou em disparidades econômicas, sociais e culturais, e gerou impacto em todos os níveis dessa cadeia, incluindo na saúde mental de pessoas negras e indígenas, com sequelas ainda vivas e sentidas. Estes últimos têm autoestima, em sua maioria, mais baixa; possuem mais desconfiança em relação às suas competências e capacidades; se viram negados da construção de uma identidade positiva sobre si. Situação essa que vem mudando com muito esforço e provocações do movimento negro no país.
Quais são os principais debates em torno da branquitude?
Luana Daltro: A falta de consciência racial deste grupo, que impede de que se entendam como produtores do racismo na sociedade e também como um grupo racializado. Isso é traduzido na falta de oportunidade para pessoas negras e indígenas nas diferentes instituições e esferas sociais, o que diminuiria os privilégios da branquitude.
Qual é a importância de reconhecer e refletir sobre a branquitude no combate ao racismo?
Luana Daltro: A importância é gigante. Pessoas brancas precisam compreender que são produtoras do racismo na sociedade, pois detém o poder social, cultural e econômico, e deveriam atuar para combatê-lo. Ao evitarem o debate sobre o tema e a omissão sob a sua participação direta e indireta, compactuam para a manutenção do racismo.
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